quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crônica I

Era para ser um maio qualquer, com a sua monotonia se não fosse pela simples circunstância que me fazia o convite ousado de reviver o passado. Vi minha alma palpitar quando sentada a espera do metro, me apareceu de súbito quem não via a muitos anos. Foi impressionante como após cerca de 15 anos aqueles olhos conseguiam me abalar, eram os mesmos da juventude, repletos de voracidade e intensidade. Lembro-me exatamente de suas palavras...
Incrível mas o que me disse parecia ter saído da minha boca, pois se aplicava perfeitamente a mim; sim, ainda estávamos em sintonia.
Me deu um cartão: telefone e endereço.
Previsível e confirmado, a tentação de ter a chance de continuar algo até então esquecido parecia martelar em minha mente com toda a força possível. O que fazer? Já haviam se passado anos e tanta coisa havia mudado, hoje me via casada, filhos, vida profissional encaminhada e estabilizada em todos os aspectos. Contudo faltava algo: as turbulências de um relacionamento juvenil, o amor carnal, possessivo, a briga e a reconciliação simultânea.
Suspirei, a quanto tempo não me via neste tipo de situação entre a razão e a emoção.
Maldita consciência, a mãe da prudência, em momentos como este ela deveria silenciar, permitir que somente a emoção com toda sua atitude impulsiva se manifestasse.
Resolvi me levantar. Deveriam ser cerca de 11 horas, meu marido já dormia e as crianças estavam na cama fazia um bom tempo. Fui ao closet escolhi a roupa mais delicada, talvez a mais simples dentre as que ali estavam. Desci as escadas, peguei o cartão e telefonei pedindo que ele tivesse paciência e aguardasse mais um tempo...
Com uma taça de vinho na mão, bati na porta ( simples força do hábito), me atirei em uma cadeira próxima a uma escrivaninha. Dentro desta, no fundo de um baú retirei uma fotografia, bem envelhecida devido a falta de luminosidade e ação do tempo. Visualizei um lindo casal, aparentemente estavam muito felizes, eram novos e gozavam da beleza da juventude. Talvez fosse bom permanecer ali durante alguns minutos, bebendo recordações e saboreando um vinho com o gosto amargo da lucidez.

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